Desculpe seu moço

Desculpe seu moço

Por querer viver mais que dezeseis anos

Desculpe seu moço

Por não ter nascido 

Em berço de ouro

Nasci no meio do asfalto

Depois de ter dançado bastante

Na barriga de mamãe

Naquela noite de baile funk

Desculpe seu moço

Mas pensei que fosse normal 

Nascer de sete meses

Depois de várias pauladas

E tiro de bala de borracha

Mamãe estava no Flucho 

Desculpe seu moço

Ela votou em vc

Acreditou na mudança

Você deu esperança

Mas nada aconteceu de bom

Hoje vivo num abrigo

Vivo escondido de vc

Se eu aparecer

Temo que venha perecer

Pois ser filho de pobre

Ser negro

E gostar de Funk

Parece te enfurecer

Desculpe seu moço

Pensei que a tua profissão 

Fosse pra me proteger

Não matar meus sonhos

Enterrar meu futuro

E se esconder 

Por de trás de uma farda 

Que encoraja vc

Desculpe seu moço

Mas vc pra mim 

É o resto dos restos

Tenho nojo de vc

Desculpe seu moço

Eu sou gente

Cidadão

Faço parte da população 

Que sustenta vc

Sou grata pela oportunidade de estar aqui
Sou grata pelos aprendizados
Sou grata pelas lágrimas
E também pelos sorrisos
Aprendi a não contar o tempo
Mas a aproveitar intensamente
Cada momento
Hoje andei de mãos dadas com o vento
Com pés nas nuvens
E pude tocar as estrelas
Gratidão pelos sonhos
E imenso amor
A vida

Um sentimento tentando apossar de meus desejos.
Sufocando minhas verdades.
Assumindo o controle, daquilo que não apenas o coração, pode definir e dirigir.
Como tirana tento não esmurecer e assumo o comando.
Não deixarei de te amar, mas não te darei a chave da minha vida.
Não te direi o segredo, nem ensinarei os atalhos.
Que revelam o que me define.
Faça sua parte; investigue!
Mas seja rápido e não deixe vestígios.
E ao sair deixe a porta aberta.
Pois eu permito que entre o destino.

Conflitos
Nestes momentos me sinto encorajada
E num impulso faço o improvável
Torno real o que se distanciava da tua realidade
Mas sou fiel as minhas verdades
Você me coloca na parede
Me revela
Me expõe
E sem censura
Me desnudo
E isso pode agredir
As tuas teorias
Sou grata a você
Que me conhece além
Da minha ingênua percepção
A cada crise
Você me amadurece
E uma muralha se levanta
E me revisto de coragem
Pra seguir em frente
Rumo a mim mesma
Mas desta vez refeita
E nem um pouco surpresa
Com qualquer que seja a tua reação

Nasci em berço explêndido
Minha coroa é de Xangô
Na família sobraram poucos guerreiros
Que nesta terra conheceram o terror
Escravidão
Falsa liberdade
Abandono
Maldita Abolição
Racismo
Desemprego
Prostituição
Rodas de samba
Capoeira
Atabaques
Perseguição
Oferendas
Mitos e magias
Religião
Resistência
Falsa identidade
Desilusão

Toc... toc
Alguém consegue entender?
Alguém consegue responder?
Onde foram parar os valores e princípios?
Quando foi que enterraram o respeito e o discernimento entre o certo e o errado?
Entre o bem e o mal?
Quem espantou os pássaros de meu quintal?
Por que a Justiça se cega diante de algumas ofertas?
E viver virou desafio e matar virou profissão?
Onde queimaram a Carta Magma?
Não há mais Constituição?
Por que pobres e ricos se encontram apenas Quando são devorados por vermes debaixo do chão?
Por que se fecham escolas por falta de verbas e não há investimento pra Educação?
Toc...toc
Por que crenças e culturas européias são exaltadas
E a minha fé discrimina?
Alvo de críticas e piadas?
Toc...toc
Assim vamos em frente
Empoderando nossa gente
Relembrando a lição
Zumbi
Não é mito
Zumbi
Jamais morrerá
Zumbi
É nossa consciência
Zumbi
É sinônimo de resistência
Salve o filho de Ogum
Que ele permaneça a nos guiar

Silêncio
Estou ouvindo um tambor
Deve ser de Dandara
Anunciando que um ciclo acabou
Homens e mulheres partiram
Foram pra junto de Odé
O guerreiro nagô
Silêncio
Estou ouvindo um tambor
Lamento vindo de longe
De onde vieram vovó e vovô
Carregando no lombo
As marcas deixadas
Pelo feitor
Silêncio
Estou ouvindo um tambor
Acordes que arrepiam o corpo
E causam dor
É como se abrisse meu peito
E lá se abrigasse toda mágoa e horror
Silêncio
Estou ouvindo o tambor
Chamando teus filhos pra luta
O racismo
Ainda não acabou
Fere e aleija
Mentes deturpa
Silêncio
Estou ouvindo o tambor
Entregando a lança para os filhos
Do guerreiro nagô
Cingiu tuas cinturas
E cobriu tuas curas de cinzas
Silêncio
Estou ouvindo um tambor
Encorajando teus filhos pra luta
Lembrando dos nossos antepassados
Que não se entregaram ao feitor
Silêncio
Não ouço mais o tambor
Mas sim gemidos
De mulheres com dor
Parindo os herdeiros
Do guerreiro nagô
Silêncio
A guerra não terminou
O sangue dos novos Zumbis
Que ainda insistem em resistir
Escorrem pelas ruas
Das nossas comunidades
Silêncio
Muitos tiros ainda estão por vir
É preciso resistir
Denunciar
Marielizar
Até tudo isso acabar
É preciso quebrar o
Silêncio

Pensei que já tivesse aprendido a lição
Mas mais uma vez
Cai da cama
Humm... tombo feio
Com direito a escoriações
E tudo mais
Bom...pelo menos sobrevivi
Isto porque
Sou dura rapaz
Não sou feita de cristal
Te garanto que te esquecer
Nem pensar
Assim como outros bons amantes
Não farei questão nenhuma
Porque a cada queda
Amadureço
E por incrível que pareça
Passo acreditar mais e mais
Neste sentimento danado de bom
Mas cruel
Chamado amor
Até breve

Nada fácil!
Mas também não é impossível
Lidar com as frustrações
Faz parte desta loucura
Que chamamos de vida
E estar vivo...humm...
É um grande desafio
A cada dia precisamos nos abastecer
De boas conversas
Bons amigos e lugares
Boas energias
Pra ter forças
E coragem
De continuar neste jogo
Repleto de regras
E também de surpresas
Imprevistos...
Mas tenha certeza
Que realmente
O que não te mata
Te fortalece

Bom final de semana amigos!!!

E se por acaso me encontrar por aí
Não desvie o olhar
Lembre de quanto admiro
Estes teus olhos negros
Feio a noite
Feito o abismo
Que tua partida
Me deixou
Se por acaso me encontrar por aí
Faça de conta
Que sou uma folha de papel
Que voa livre
A procura de quem registre
Tuas mágoas em mim
Se por acaso me encontrar por aí
Tente não demonstrar
A felicidade que teu sorriso
Agora passou a estampar
Pois sei
Que outro alguém
Já ocupa meu lugar
Se por acaso me encontrar por aí
Saiba que estarei torcendo
Para que mesmo
Andando por caminhos diferentes
Possamos sempre
Nos encontrar
Em tudo que nos faça feliz

Tá tudo normal

Está tudo normal
Votar errado é natural
Teu presidente é anormal
A imbecilidade venceu
Um ignorante você elegeu
E nossos direitos foram esquecidos
A Lei não defende os empobrecidos
A Educação foi jogada no lixo
Pra quê pensar
Pra trabalhar feito burro de carga
Filosofar é desperdício

Está  tudo normal
Aqui tudo se resolve
Na ponta da caneta
No voto comprado
Subornado
Com depósitos em contas
E tudo é arrumado

Caso contrário
O problema é resolvido
No tiro
Na calada da noite
Com armas riscadas
Com carros oficiais
E assim
Mais um ativista
Mas uma Mariele
É tirado do caminho

E que nenhum pobre
Ouse apertar um gatilho
Aqui só não é preso
Os amigos do "homem"
Bozolinos e seus filhinhos
Aqueles que nunca estão envolvidos
Com nada
E a Lei interpretada
Por "Moros"
Se cega
Pra defender

Está tudo normal
Aqui não se governa
Pra negros
Nem índios
Não se governa
Pra pobres
Muito menos mendingo
Não se considera normal
Quem é transexual
Mas mulher pobre
Pode ser
E oferecida pra gringos

Aqui não há
Desemprego
Não há
Fome
Não há
Corrupção
Aqui Lula
É preso
E julgado por ladrão

Está tudo normal
No Brasil
O presidente é um sucesso
A Desordem assassinou o Progresso
E o teu nome é lembrado a todo momento🤬🤬🤬🤬🤬🤬🤬🤬🤬🤬🤬🤬🤬🤬🤬🤬🤬🤬🤬

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Felicidade pra mim

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Lincoln

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Lágrimas

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Meu filho

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