Adolescentes em situação de risco nas ruas
Uma sociedade que se pretende organizada deve ter sempre estabelecidas as prioridades da ação do Estado, como forma de dar sustentação a qualquer projeto de desenvolvimento. O desequilíbrio de qualquer face do sistema mostra o despreparo e o descaso das autoridades com a responsabilidade de oferecer oportunidades iguais e garantir os direitos individuais.
A existência de um enorme contingente de crianças e adolescentes em situação de risco nas ruas de Campinas é uma face perversa do desnível social, da incapacidade de a sociedade se organizar a ponto de garantir os direitos mais elementares dos seres humanos. Segundo levantamento do programa Construindo Uma Vida Melhor (Convim), foram identificados 500 jovens perambulando pelas ruas, em atividades entre distribuição de folhetos, mendicância, trabalho com material reciclável, venda de produtos diversos e moradores de rua (Correio Popular, 5/1, A12 e A13). A entidade ligada ao Movimento Vida Melhor (MVM) disponibiliza profissionais para o serviço de abordagem social e orientação, em associação com a Secretaria de Assistência Social.
A construção de uma sociedade moderna e evoluída pressupõe a arquitetura de uma série de providências que garanta a cada cidadão o seu direito, a sua liberdade e a igualdade de oportunidades. A dificuldade maior está na divisão de responsabilidades entre a sociedade civil e o Estado, onde se deve buscar o equilíbrio da autonomia e liberdade individuais. Definidas as prioridades, o foco deve ser sempre a questão social, balanceada de forma a atingir altos níveis de qualidade de vida.
Está evidenciado que a sociedade não dá conta da responsabilidade de prover adequadamente a educação a esses jovens, sequer consegue estender aos mesmos os benefícios existentes de forma clara e objetiva. Muitos dos jovens abordados sequer tinham noção de seus direitos e da estrutura disponível para atendê-los. Alguns confessaram-se satisfeitos com o pouco que conseguiam nas ruas para comer e sustentar o vício de drogas. Outros, demonstraram total desamparo e desorientação.
Trabalhos como este de identificação de menores em situação de risco devem ser intensificados e consequentes. Não basta apenas a aplicação das restrições legais quanto ao trabalho infantil, mas isso deve vir acompanhado de uma estrutura que permita aos jovens a reintegração na sociedade, o acesso à Educação e garantia de sustento. Enquanto esse equilíbrio não for atingido, só há o lamentar de tantas vidas desperdiçadas e a patente incapacidade da sociedade se organizar de maneira mais justa e humanitária.
CORREIO POPULAR DE CAMPINAS
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